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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

OS PRIMEIROS PASSOS DE UMA VERDADEIRA INCLUSÃO

 
   As discussões em torno da “Inclusão” já estão nas pautas e projetos de formação de professores em muitas instituições públicas e privadas já há certo tempo e ganhou maior vigor a partir da década de 1990, quando dois documentos internacionais tornaram-se referência da inclusão: a Declaração Universal de Educação para Todos, realizada em 1990, em Jomtien na Tailândia; e a Declaração de Salamanca sobre Princípios, Políticas e Práticas em Educação Especial, produzida pela Unesco em 1994, na Espanha, propondo que todas as crianças, sempre que possível, deveriam aprender juntas em programas pedagógicos individualizados, independente da condição intelectual, física, emocional e social.   
No Brasil o movimento ganhou força maior no ano de 1996, quando foi publicada a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96. Essa lei expressa em seu conteúdo alguns avanços significativos. Podemos citar a extensão da oferta da educação especial na faixa etária de zero a seis anos; a idéia de melhoria da qualidade dos serviços educacionais para os alunos e a necessidade de o professor estar preparado e com recursos adequados de forma a compreender e atender à diversidade dos alunos.
As discussões em torno do novo modelo de atendimento escolar denominado inclusão escolar tem gerado muitas controvérsias e discussões desde então.  Embora já existam muitos programas e propostas interessantes de formação para os profissionais que atuam em instituições escolares para que os mesmos aprendam a lidar com crianças e adolescentes com NEE (necessidades educacionais especiais), infelizmente encontramos ainda um bom número de instituições e professores que não possuem a capacitação necessária para tal.
Para que haja uma verdadeira Inclusão Escolar é de extrema importância que as pessoas que lidam com crianças que possuem algum tipo de deficiência (auditiva, visual, física ou intelectual) ou distúrbio (autismo, hiperatividade, dislexia) busquem respaldos teóricos para que compreendam as causas e características principais de cada deficiência ou distúrbio e sobretudo que estejam abertas para lidar com as diferenças.  
Incluir uma criança não é apenas oportunizá-la a participar de um grupo social, e sim promover seus avanços em diversas áreas, assim como deve acontecer o trabalho com crianças que não possuem NEE. O que os profissionais precisam estar atentos é quanto as capacidades e limites de cada criança, independente dela ter ou não uma deficiência.
Nas creches e pré-escolas todos os bebês e crianças devem ser  vistos como seres únicos, com capacidades, características, comportamentos, limites, valores, cultura, modos de pensar e agir que devem ser respeitados. Ao se pensar num trabalho coletivo (para um grupo ou turma) deve se pensar também no indivíduo dentro deste coletivo. Assim, desde o berçário o trabalho com a Inclusão e a diversidade já deve acontecer.  
   

Texto produzido por: Raphaela Dany Freitas Silveira Gonçalves

PRA QUÊ SERVE A CRECHE?


A primeira idéia de creche que se tem conhecimento surgiu na Europa- França, aldeia de Ban de La Roche, por volta de 1770, quando um pastor de ovelhas residente no campo resolveu cuidar das crianças da aldeia enquanto as mulheres trabalhavam. Essa idéia foi logo aprovada e disseminada por vários países.
As primeiras creches estruturadas para “abrigar” as crianças durante o trabalho das mães que se tem notícia surgiram por volta de 1854 em Portugal e em Nova Iorque, com os nomes de Creche de São Vicente de Paulo e “Day Nursey”, respectivamente. Além do interesse de cuidar da criança, a história demonstra que a creche esteve muito imbricada com interesses outros, que não apenas a criança. Por exemplo, em tempo de guerras, momentos em que os homens tinham que se ausentar da família a fim de lutarem e as mulheres eram obrigadas a trabalhar fora do lar para garantir o sustento da prole, havia um incentivo à construção de creches e elas eram criadas em grande número.
A criação de creches, em especial as públicas, também se deve às iniciativas de caráter assistencialista, caritativo e de favor às famílias, visando apenas a guarda das crianças e ao atendimento de suas necessidades básicas.
 Infelizmente quando se trata de creches públicas ainda vivenciamos um grande descaso político em nosso país. São raras as instituições que atendem de forma qualitativa às necessidades básicas da infância. Professores e educadores de creches e escolas públicas são mal remunerados, não encontram recursos para que possam fazer um trabalho de qualidade, não possuem formação continuada, enfim, são muitos os problemas enfrentados. Por isso o número de creches e escolas particulares aumenta cada vez mais.
Mas de fato, pra quê serve mesmo a creche? Apenas para que o bebê ou a criança receba os cuidados e atenção que precisa? Para brincar? Para ser educada? Para que a criança fique num lugar seguro enquanto os pais trabalham?
Todos estes motivos são realmente a razão pela qual as creches existem. Acontece que hoje se exige muito mais destas instituições, a sociedade vem sofrendo grandes transformações e conseqüentemente tudo à sua volta precisa ser transformado para atender às suas necessidades. O homem, a tecnologia, a ciência, a política, o mundo do trabalho, a globalização, a natureza, os valores humanos, tudo merece ser pensado, refletido, construído e/ou reelaborado desde a infância. Assim, a creche e/ou a escola de educação infantil, precisa estar atenta a cada um destes aspectos.
As famílias que optam pela creche hoje esperam muito mais do que assistência, querem que seus filhos tenham um local seguro para crescerem e que se desenvolvam plenamente. Fazem esta opção não apenas porque a mãe precisa trabalhar o dia inteiro ou porque não podem mais confiar seus filhos à estranhos ou pessoas despreparadas, mas porque sabem que na creche a criança terá muito mais atividades durante o dia, como aulas de música, artes, psicomotricidade, brincadeiras, enfim, que será muito mais estimulada do que em casa, na qual passaria a maior parte do tempo frente à televisão.     
Na creche a criança deve ser atendida em suas necessidades básicas, como alimentação, sono, higiene, desenvolvimento físico e motor, em suas necessidades emocionais (colo, atenção, carinho, afeto, limites), em seu desenvolvimento intelectual e moral.
Não é tarefa fácil para os educadores e professores de Educação Infantil “dar conta” de todas estas necessidades. É preciso muito mais que amor à profissão, são necessárias horas e horas de estudo, de dedicação e de compromisso. Nas creches, aos profissionais não cabem apenas ser carinhosos e atenciosos com as crianças, mas sobretudo precisam conhecer o desenvolvimento infantil e tudo o que o envolve. Assim são capazes de atuar de maneira efetiva e desenvolver um trabalho de qualidade, que as famílias e as crianças tanto merecem.  
Texto produzido por: Raphaela Dany Freitas S. Gonçalves

DEZ RAZÕES PARA BRINCAR!


“Quando você me pergunta o que fiz na escola hoje ,
E eu digo: -Eu brinquei.
Por favor não me entenda mal,
Por enquanto eu brinco, estou aprendendo.
Hoje eu sou uma criança e meu trabalho é brincar.” (Anita Wadley)

Meu filho só vai pra creche para brincar.” Quantas vezes ouvimos pais e familiares repetindo esta frase? Inúmeras vezes. A crença de que a creche e/ou a escola de Educação Infantil “só serve” para a criança brincar é algo que já dura há um certo tempo. Não fosse pela conotação e caráter “banal” desta frase, não haveria mal algum, até porque consideramos a brincadeira como algo sério e que precisa ser levado em consideração quando se trata de um desenvolvimento infantil saudável.
A princípio podemos levantar dez razões pelas quais consideramos a importância da brincadeira no desenvolvimento infantil:
1-     Ao brincar, a criança aprende sobre si mesma e sobre o mundo que a cerca, portanto, a brincadeira é um elemento que contribui para a construção da identidade e na formação social e cultural do indivíduo;
2-     A brincadeira favorece a capacidade de interação. Brincando, a criança aprende a lidar com o outro, respeitando seus limites, aprende sobre diversidade;
3-     Nas brincadeiras as crianças entram em contato com regras e normas sociais, sendo assim são através das brincadeiras que elas conhecem e aprendem determinados valores e comportamentos culturais;
4-       Ao brincar, a criança consegue expressar, de forma muito mais espontânea, os seus sentimentos e emoções;
5-     O desenvolvimento da linguagem oral, da expressão corporal e comunicação ampliam-se através das brincadeiras;
6-     A capacidade de imaginação, imitação, observação e criatividade são aspectos desenvolvidos no ato de brincar;
7-     Auto estima elevada e autoconfiança são reforçadas nas brincadeiras;
8-     A brincadeira oportuniza a aprendizagem de conceitos e conhecimentos científicos de forma significativa e rica, assim, a brincadeira desenvolve habilidades cognitivas;
9-     Quando a criança brinca, ela consegue compreender determinadas situações conflitantes e aprende a tomar decisões, a resolver problemas;
10-  A  ludicidade que envolve a brincadeira faz com que a criança desenvolva-se plenamente em diversos aspectos (físico, emocional, psicológico e cognitivo) e cresça saudável e feliz;

Brincar de casinha, de supermercado, de “motorista”, de salão de beleza, de consultório médico, de “escola”, de lanchonete, de boneca/boneco, de carrinho, de bola, enfim, brincar é tão importante para a criança quanto estudar, alimentar-se, dormir, porque é também através da brincadeira que o seu intelecto, seu emocional e seu bem estar físico caminharão juntos, pois como diz Carlos Drummond de Andrade: “Brincar não é perder tempo, é ganhá-lo”.     

 Texto produzido por: Raphaela Dany Freitas Silveira Gonçalves

BEBÊS PRECISAM DE LIMITES?


Estando inseridas num contexto social, com regras e normas que devem ser respeitadas e cumpridas, as crianças, desde a mais tenra idade, precisam vivenciar situações em que percebam a importância de determinados valores, em especial, o respeito ao outro.
Deparamo-nos diariamente com situações que nos deixam muitas vezes horrorizados diante de atitudes, dos adultos, que não devem ter aprendido enquanto crianças, o que quer dizer a palavra “respeito”. Basta observarmos o comportamento de algumas pessoas no trânsito (carros parados em fila dupla, pessoas jogando lixo pela janela, infrações em sinaleiras etc.), em supermercados (pessoas que abrem embalagens e deixam o produto na prateleira, “furam” filas, desrespeitam idosos), nas ruas, banheiros públicos, bancos, enfim, além de “falta de educação”, quer dizer, de uma boa educação, estas pessoas certamente não aprenderam também o que significa “limite” ou aquele ditado “Os meus direitos terminam onde começa o do outro”.  
As crianças ainda estão em processo de formação e de desenvolvimento da moralidade, do que é certo e errado, além da própria construção da identidade e auto-afirmação, do “quem sou eu”. Assim é comum que o bebê ou a criança pequena insista em determinadas ações que julgamos “erradas”, como jogar brinquedos no chão, chorar para conseguir satisfazer um desejo, bater ou morder em situações de conflito, gritar, se jogar no chão ou fazer aquelas “famosas birras”. Então, onde é que entra o papel do educador? O que podem fazer os pais, professores, berçaristas, babás e todos aqueles responsáveis pela educação desta criança?
Vivemos um momento ímpar em nossa sociedade, as constituições familiares mudaram, há muito mais filhos únicos, as mulheres assumiram o mercado de trabalho, a maioria dos pais precisa trabalhar dois turnos, deixando o cargo da educação dos filhos sob responsabilidade das babás, avós ou da creche. E ao chegarem em casa, à noite, cansados de um dia inteiro de trabalho, muitas vezes os pais querem apenas “curtir” o(a) filho(a), sentindo-se “culpados” por terem ficado longe. Então, a criança, inteligente e esperta como é, já percebe que “pode tudo” e sabe que se chorar um pouco mais vai conseguir o que quer. E acabam conseguindo mesmo! Ligam e desligam a televisão sem parar, chora quando quer um brinquedo, só come aquilo que lhe agrada e “exigem” cada vez mais.
As crianças precisam passar por frustrações e saber que não vão conseguir tudo o que querem, porque nós adultos não temos tudo o que queremos e precisamos ser emocionalmente equilibrados para lidar com esta situação, ou então nos transformaremos em seres infelizes ou incapazes de lidar com perdas. Por pessoas assim é que vivemos numa era de tanta violência. O adulto precisa e deve mostrar à criança que há limites a serem cumpridos e deve estabelecer regras.          
Desde o berçário deve-se observar e ter muito cuidado com a formação emocional dos bebês, pois o desenvolvimento físico e cognitivo não basta. O desenvolvimento precisa ser pleno. Deve-se querer formar, através de valores morais, de cuidado com o próximo, de respeito ao outro, crianças capazes de viver em sociedade, e que esta seja justa e harmoniosa.  Por isso, pode-se afirmar: Sim, os bebês necessitam de limites!
           

Texto produzido por: Raphaela Dany Freitas Silveira Gonçalves

Existe “vida matemática” no berçário?

            Quando pensamos em Matemática, logo imaginamos que ela só é possível de acontecer quando as crianças já são capazes de contar, enumerar, realizar operações, reconhecer números, enfim, desenvolver as habilidades que nós, adultos, já conseguimos realizar. Mas o trabalho com a Matemática vai muito além disso, e começa bem antes da fase da escolaridade propriamente dita.
Ainda que não percebam, os bebês já estão em contato com a Matemática em seu dia-a-dia, e isto ocorre quando exploram seus brinquedos, quando interagem com as pessoas, quando manipulam objetos, quando selecionam, organizam e até classificam diversos materiais. Este é o princípio do desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático.    
A plasticidade cerebral de um bebê é realmente fascinante. Em três anos a rede neuronal da criança aumenta em pelo menos 90%, é o que afirmam os cientistas e estudiosos da área da neurologia. Isto significa que desde a tenra idade as crianças têm a possibilidade de se desenvolverem cognitivamente em um ritmo acelerado e nós- adultos, educadores- devemos ofertar-lhes experiências ricas de aprendizagem.
Em se tratando do desenvolvimento da inteligência lógico-matemática, algumas situações didáticas podem ser pensadas no intuito de favorecer a ampliação deste conhecimento. Mas como desenvolver tais situações com bebês?  Na Creche Escola Primeiros Passos, uma atividade bastante interessante acontece diariamente no berçário: a organização da estante de sapatos. Os adultos não entram calçados a fim de manter a higienização do ambiente e os bebês e crianças também retiram (com o apoio de um adulto) seus calçados e os colocam na estante. Nestes momentos geralmente acontecem situações-problema do tipo: como arrumar os sapatos para que caibam no espaço? Alguns bebês maiores (os que já andam e tem maior autonomia motora) experimentam a organização de diversas formas. Após explorarem à sua maneira e se “frustrarem” diante de algumas tentativas sem sucesso, entra o papel mediador do adulto de referência para “ensinar matemática”.  É o momento em que são mostradas às crianças as possibilidades de organização, de acordo com tamanho e formas dos calçados. Os desafios surgem a cada dia e novas possibilidades de organização também: cores, posição, encaixe etc.
Panizza (2006, p.19), educadora argentina e professora de Didática da Matemática traz luz a uma importante reflexão: “não é possível tratar o tema da aprendizagem e o ensino da Matemática sem se referir seriamente à questão do sentido”.  Para os bebês e crianças pequenas, as aprendizagens estão ligadas diretamente ao que faz sentido para elas, por isso, as explorarem os brinquedos, vivenciarem situações interessantes no seu cotidiano, terem contato com objetos e materiais ricos e principalmente na interação com o outro, elas vão enriquecendo seu repertório de conhecimentos.
 Assim, sabemos que a Matemática não se reduz ao ensino dos números e da contagem, ela está presente em várias situações e os bebês utilizam-na sempre: quando precisam “medir” a distância entre seu corpo e a de um brinquedo para alcançá-lo, quando tentam encaixar blocos, quando tentam pegar ou levantar um objeto pesado e não conseguem, enfim, ao experimentar e explorar materiais de diversos tamanhos, pesos, cores e formas elas estão “fazendo matemática”. São os olhares “adultos” que, na verdade, vão fazer a diferença ao possibilitar à criança explorar ou não tais oportunidades de aprendizagem.
 
Texto produzido por: Raphaela Dany Freitas Silveira Gonçalves
REFERÊNCIA:
PANIZZA, M. (org.). Ensinar matemática na educação infantil e séries iniciais: análise e propostas. Tradução: Antonio Feltrin. Porto Alegre: Artes Médicas, 2006.

ALFABETIZAÇÃO: QUANDO COMEÇA ESTE PROCESSO?

O termo Alfabetização, embora não seja recente, ainda gera muitas discussões, tanto no âmbito educacional, como no âmbito social. Há uma preocupação grande, especialmente das famílias, em saber quando a criança vai “aprender a ler e a escrever”. Esta preocupação é pertinente, pois estamos vivendo numa era em que as transformações (culturais, tecnológicas, sociais, políticas e econômicas) ocorrem numa velocidade surpreendentemente rápida, e precisamos acompanhar este ritmo, caso contrário, seremos “deixados para trás”. E as crianças? Bom, elas estão inseridas neste contexto, sentem as mudanças, fazem mudanças, pois são atores e autores desta história, e de tal maneira, precisam de uma educação que lhes dê suporte para atuar nesta sociedade de forma segura, confiante e competente.
            Sendo assim, de que maneira ou quando elas devem aprender a ler e a escrever? Aliás, o que é mesmo ler e escrever? Pra quê serve? Qual a sua função? Historicamente, o termo “alfabetização” se referia apenas ao processo ou técnica pela qual a criança adquiria a habilidade de decodificar e codificar a língua, ou seja, quando conseguia “juntar” as letras, formando as sílabas, e quando já conseguia escrever ‘corretamente’ as palavras. Para tanto surgiram vários métodos de ensino, alguns que perduram até os dias atuais em algumas instituições, que ainda ensinam ou “alfabetizam” pelo método do “ba-be-bi-bo-bu”. Por ser mais fácil para o professor (e para as famílias), este método ainda persiste.
            Hoje, o termo “Alfabetização” é muito mais abrangente e envolve não apenas a área da lingüística, mas também outras, como por exemplo à área da Matemática (Alfabetização Matemática), das ciências (Alfabetização Científica), da tecnologia (Alfabetização digital), enfim. Por que será que este termo está tão vigente? Será que é porque “estar alfabetizado” é algo que transcende às técnicas e métodos?
            Com base nas novas pesquisas e estudos recentes sobre alfabetização (SOARES, 2003, 2004; FERREIRO, 2003) e por toda mudança de paradigmas que vem ocorrendo sobre tal temática, compreende-se que há importantes componentes que antecedem a aprendizagem formal da língua escrita e que são extremamente valiosos no processo de alfabetização. Ou seja, a criança, antes mesmo de “aprender a ler e a escrever” de forma convencional, ela já adquire certas habilidades que favorecerão seu desenvolvimento lingüístico, de forma muito mais rica, interessante e útil.
Para que isto ocorra, cabe a escola possibilitar à criança o contato, desde cedo, com uma diversidade de textos que circulam socialmente, como por exemplo, textos imagéticos, textos de propaganda, poéticos, instrucionais, enfim, textos e imagens que cotidianamente a criança vê, toca, sente e que “dizem algo”, que significam algo para ela. O aprender a ler e a escrever deve fazer sentido para a criança. De nada vale reconhecer o alfabeto e “juntar as sílabas” se esta aprendizagem não tem valor social na sua vida, ou se esta aprendizagem vem seguida de imposições e torna-se algo que significa um desprazer. Quantas pessoas aprenderam a ler e a escrever, mas não suportam ler um livro, ou escrever um texto? Não é esta a aprendizagem que desejamos às nossas crianças.
            O desenvolvimento da leitura e da escrita inicia quando a criança nasce. A depender das experiências que esta criança vivencia, dentro e fora da escola, é que se pode prevê quando ela adquirirá a aprendizagem formal ou convencional da leitura e da escrita. Portanto, uma criança pode “aprender a ler e escrever” a partir dos três anos de idade, levando em consideração o contexto em que está inserida e das mediações que lhes forem feitas. Uma coisa é certa: não é necessário adquirir uma técnica para que esta aprendizagem ocorra. 
 Texto produzido por: Raphaela Dany Freitas Silveira Gonçalves
 REFERÊNCIAS:
FERREIRO, Emilia. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 2003.
SOARES, Magda B. A reinvenção da alfabetização. FAE-UFMG, 2003.
SOARES, Magda B. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2004.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

QUEM CUIDA DO MEU BEBÊ NA CRECHE?

Esta é uma das muitas indagações que as mães/os pais e/ou familiares se questionam antes de optar por colocar seu filho numa creche. As inquietações, medos e dúvidas são muitos, mesmo porque é bastante recente a “opção creche” no atual contexto das famílias brasileiras.
          Até pouco tempo atrás- década de 1980, 1990- era comum as crianças de até três anos ficarem em casa, com as mães, avós ou babás, passando a freqüentar escolas a partir dos quatro anos de idade. Hoje, século XXI, a constituição familiar passa por muitas mudanças, as famílias estão bem menos numerosas (se os pais antes tinham quatro, cinco, seis filhos, hoje a maioria opta por apenas um ou dois), as mães não são mais apenas “mães”, são mulheres, que querem se cuidar (salão de beleza, esteticista, massagens etc.) e profissionais, que querem ganhar espaço no mercado de trabalho. O resultado destas mudanças é a procura mais intensa por espaços educativos para que as crianças passem mais tempo, ou seja, as creches e escolas.
No entanto, a preocupação a respeito de quem vai cuidar e educar essas crianças torna-se latente, não apenas no meio familiar, mas especialmente entre educadores e pesquisadores da área educacional. Muitas são as pesquisas que estão sendo realizadas no país acerca dos profissionais de Educação Infantil, e bem recentemente, algumas pesquisas focam a atenção para o profissional de berçário. Esquinsani (2008, p. 156), doutora em Educação pela Universidade de Passo Fundo-RS, em seu artigo intitulado “Quem cuida de nossos bebês? Política de recursos humanos para turmas de berçário”, diz que:
O cuidado dedicado a um bebê é inversamente proporcional ao seu tamanho, pois totalmente dependente de um adulto em seus primeiros meses de vida, uma criança pequena demanda cuidados constantes, exigindo atenção e zelo redobrados. Contudo, um bebê não necessita apenas de cuidados. Ao chorar, rir, fazer ‘soninho’, preterir um brinquedo em relação ao outro... o bebê está imerso em um processo de interação, e portanto, de educação.


          Desta forma, todos os profissionais de uma instituição de educação infantil precisam conhecer sobre o desenvolvimento infantil, suas características e necessidades, e de que maneira agir e lidar em cada etapa da vida da criança, ou seja, necessitam de uma formação de qualidade para atuar de maneira eficaz, eficiente e segura com cada criança.  Rapoport (2008, p. 20), psicóloga e doutora em psicologia (PUC-RS) reafirma tal concepção quando diz que “Trabalhar com bebês é difícil e complexo. É necessário, para isso, muito mais do que simplesmente gostar de criança”.
          Pensando nestes aspectos, uma Creche necessita investir na formação inicial e continuada de todos os profissionais, desde o berçário, buscando aqueles que possuem curso de nível superior e incentivar as berçaristas para que participem de grupos de estudos semanais, através dos quais podem refletir sobre a própria prática e discutir temas relevantes acerca do cotidiano infantil com bases teóricas.
          Um trabalho só se torna consistente e seguro quando há uma intrínseca relação entre teoria e prática. O trabalho num berçário e creche exige um olhar atencioso para estas questões.
REFERÊNCIAS:
ESQUINSANI, Rosimar Serena Siqueira. Quem cuida dos nossos bebês? Política de recursos humanos para turmas de berçário. Revista da FAEEBA, vol 18, n° 31, jan-jun 2009. p.155-162.
RAPOPORT, Andrea. Adaptação de bebês em creche: a importância da atenção de pais e educadores. Porto Alegre: Mediação, 2005.